Transtorno Borderline

Transtorno Bordeline - Psicólogo em Santana, São Paulo

Texto escrito por Marcos A. Pereira

O estudo, a pesquisa e o tratamento das pessoas diagnosticadas como portadoras do transtorno borderline de personalidade (TBP), é um dos maiores desafios para os estudiosos de saúde mental. Os progressos foram grandes nas últimas décadas, mas falta muito para atingirmos um conhecimento que torne possível melhores tratamentos para diminuir o sofrimento das pessoas acometidas, de seus familiares e da comunidade.

O conceito de personalidade borderline é o resultado inevitável do esforço para definir um limite entre o funcionamento mental neurótico e psicótico. O uso consagrou a denominação com a grafia e pronúncia da língua inglesa na comunidade científica mundial.

O que é um Transtorno de Personalidade?

A personalidade é a síntese de nossos comportamentos, cognições e emoções que faz de cada um de nós uma pessoa única. Estes atributos tendem a ser estáveis e permanentes, permitindo que nossos familiares, amigos e conhecidos possam prever como nós reagiremos a uma dada situação e permite a eles nos descrever para outras pessoas.

Embora nossa personalidade tenha esta característica de estabilidade e permanência, ao ponto de que a nossa reação a determinadas situações possa ser previsível, a pessoa com uma personalidade saudável demonstra uma grande variedade de respostas às situações de vida e principalmente às situações estressantes.

Um transtorno de personalidade ocorre quando uma pessoa não pode mostrar tal flexibilidade e adaptabilidade. A falta de adaptabilidade e o limitado repertório de respostas frente às situações comuns de vida, e principalmente daquelas mais estressantes, torna-se uma importante fonte de sofrimento para o indivíduo e para os que estão à sua volta.

Os transtornos de personalidade tornam-se reconhecíveis na adolescência ou, às vezes antes, e permanecem pela maior parte da vida adulta. São padrões mal adaptados, inflexíveis, muito enraizados e de severidade suficiente para atrapalhar o funcionamento da pessoa, sem dizer também que trazem muito sofrimento.

Por que é importante reconhecer o transtorno de personalidade?

O diagnóstico de transtorno de personalidade pode indicar que o paciente tem um elevado risco de suicídio, afeta o curso e o prognóstico de doenças coexistentes, destaca importantes fatores etiológicos, informa ao clínico acerca da evolução e prognóstico do paciente, indica áreas de importante disfunção nos papéis sociais, familiares e ocupacionais e ajuda o clínico na administração global do tratamento.

Como é feito o diagnóstico do transtorno borderline?

O instrumento diagnóstico mais usado atualmente pelos médicos é o DSM-V (Manual Estatístico e Diagnóstico editado pela Associação Psiquiátrica Norte Americana), que estabelece vários critérios, bem como um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, auto-imagem e afetos, com acentuada impulsividade começando no início da vida adulta, e presente numa variedade de contextos, como indicado por cinco (ou mais) dos seguintes aspectos:

  • um padrão de relações interpessoais instáveis e intensas caracterizadas pela alternância de extremos de idealização e desvalorização;
  • perturbações de identidade: auto-imagem e sentido de self (sentido de ser a própria pessoa, contato com a interioridade) acentuada e persistentemente instáveis;
  • impulsividade em pelo menos duas áreas que são potencialmente lesivas à pessoa (self): compras, sexo, abuso de substâncias, direção perigosa e exageros alimentares;
  • comportamento suicída recorrente, com tentativas e ameaças ou comportamento auto-mutilante;
  • instabilidade afetiva devida a acentuada reatividade de humor (por exemplo disforia episódica intensa, irritabilidade ou ansiedade usualmente durando poucas horas e só raramente mais que uns poucos dias);
  • sentimentos de vazio crônicos;
  • raiva inapropriada e intensa ou difícil de controlar (por exemplo ataques frequentes de mal humor, raiva constante, agressões físicas repetitivas);
  • ideação paranoide passageira, relacionada ao estresse ou sintomas dissociativos severos;
  • esforços desesperados para evitar abandonos reais ou imaginários.

O diagnóstico do Transtorno Borderline de Personalidade continua sendo uma questão muito complexa, apesar das diretrizes que em muito ajudam, e deve ser feito por profissionais que tenham um sólido conhecimento dos transtornos de personalidade, um método sistemático de avaliação e muita experiência em lidar com pacientes com estes transtornos.

São pessoas que tem os seus familiares e pessoas próximas aterrorizadas por suas condutas agressivas, sua imprevisibilidade, suas rápidas mudanças, seus ataques de ira, suas ameaças de suicídio, de auto-mutilação e provocação de acidentes. Tudo isso se alterna com momentos onde a pessoa é afável e carinhosa.

Raramente a pessoa tem um funcionamento mental psicótico. Isto ocorre, em geral, em momentos de grande estresse e tem curta duração. Tipicamente, o portador do TBP tem um discurso coerente, fala coisas com lógica e adequação, não está desorientado e quando a família relata a estranhos os problemas que estão enfrentando com a pessoa acometida, as pessoas às vezes duvidam do que ouviram relatar.

Como é o tratamento do Transtorno Borderline de Personalidade?

São tratamentos complicados e frequentemente invadidos pelas dificuldades de relações interpessoais do portador do TBP. Fazer o psicólogo fracassar em suas tentativas de ajudar torna-se, com frequência, o item mais importante. As queixas e reclamações são frequentes e em seis meses a metade dos pacientes que iniciam um tratamento já terão abandonado. Estima-se que apenas 10% dos pacientes façam um tratamento até o final.

Os tratamentos que apresentam os melhores resultados são aqueles que envolvem psicoterapia, medicação (quando indicado), orientação ou terapia familiar e medidas de reabilitação.

Analisando-se o tratamento via medicação, temos as seguintes constatações:

1 – Os efeitos da medicação são modestos. Não existem medicamentos para mudar o caráter de uma pessoa. Os pacientes passam de severamente prejudicados a moderadamente prejudicados;

2 – A medicação funciona melhor em um plano de tratamento que inclui suporte à família e estrutura social do paciente e psicoterapia. Esta combinação de esforços melhora a aderência e confiança no tratamento minimizando o comportamento auto-destrutivo;

3 – Não há estudos que possam dar garantia da segurança de medicamentos mantidos por prazos longos com caráter preventivo, e a medicação por tempo prolongado só deve ser mantida com persistência dos sintomas ou extrema vulnerabilidade;

4 – O TBP permanece como uma síndrome heterogênea e não há “tratamento de escolha”. Neurolépticos, anticonvulsivantes, estabilizadores de humor, antidepressivos e outros agentes farmacológicos podem ser usados segundo a especificidade de cada paciente.

Em resumo, como dito acima, a psicoterapia assume grande importância no tratamento do TBP, bem como o papel da família.

Quais são as causas do Transtorno Borderline de Personalidade?

Compreender a origem dos transtornos de personalidade é uma das áreas de maior desafio para pesquisadores e clínicos. Os modelos etiológicos devem ir além das relações lineares de causa-efeito para integrar um espectro de fatores bio-psico-sociais.

Em relação às causas devemos ressaltar que:

  • Os fatores genéticos desempenham um papel importante. O TBP é cinco vezes mais frequente em pessoas que tem um parente de 1º grau com o transtorno;
  • O impacto do ambiente familiar no desenvolvimento da criança é muito grande e um fator causal importante. Cerca de 80% dos pacientes com TBP vêm o casamento de seus pais como sendo de natureza conflituosa. Muitos pacientes com TBP passaram por abusos físicos e sexuais dentro de suas famílias. No entanto, há pacientes com TBP que tiveram familiares absolutamente comuns, sem nada de anormal;
  • Fatores sociais mais amplos tais como mudanças sociais rápidas que interferem na transmissão inter-gerações de valores tem um papel causal;
  • Fatores psicológicos e constitucionais. A teoria mais conhecida e aceita é a de Kernberg que sugere que a patologia básica no TBP é o excesso de agressividade, consequência de um problema constitucional que faz com que a criança reaja em excesso às frustrações parentais habituais ou de uma quantidade excessiva de frustração precoce que traz uma agressividade excessiva como reação a estas frustrações. Isto leva a criança a ver-se como uma pessoa potencialmente perigosa e assassina e que vive em um mundo muito hostil e perigoso. De fato, ou ela se vê como “toda má” ou o seu mundo como “todo mau”;
  • Estudos recentes mostram a importância de um cérebro intacto na formação e manutenção de uma personalidade normal.Os testes de funcionamento do sistema frontal (lado frontal do cérebro) no TBP parecem mostrar deficits como impulsividade, inflexibilidade cognitiva, pouco auto-monitoramento e dificuldades no processamento de informações. Estes deficits podem contribuir para as dificuldades comportamentais, interpessoais e emocionais exibidos por pacientes com TBP e ter um impacto significativo nos esforços terapêuticos.

Qual é o impacto na família que tem um membro com Transtorno Borderline de Personalidade?

Os membros da família são os trabalhadores “da linha de frente”, pois tem que conviver com a pessoa afetada pelo transtorno e também podem vir a ser muito comprometidos pelos comportamentos assustadores, confusos inconvenientes e que causam perplexidade. As pesquisas mostram, consistentemente que a carga suportada pelos membros da família afetam a comunicação e o desempenho dos papéis familiares, trazendo tensões enormes que podem levar a separações conjugais e outros problemas na convivência familiar.

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Fontes: