Aprendendo sobre LGBTQIA+

LGBTQIA+, preconceito, diversidade

Texto escrito por Marcos A. Pereira

O objetivo deste texto é informar, pois acreditamos que aprendendo sobre o LGBTQIA+ estamos abrindo um dos caminhos possíveis para o entendimento e para a diminuição do preconceito e suas nefastas consequências.

Vivemos numa sociedade em que uma grande parcela dos indivíduos é preconceituosa e intolerante com as diferenças e com as minorias. Quando o assunto é a sexualidade humana, isso se evidencia de maneira pungente. Só para se ter uma ideia, no contexto brasileiro, a cada 25 horas uma pessoa é assassinada, apenas por fazer parte de um grupo de minorias, seja por ser lésbica, gay, bissexual, trans ou com diferença no desenvolvimento do sexo (Reis, 2018). Ademais, existe a discriminação velada, sorrateira, corrosiva, que está infiltrada nos mais diversos discursos e ações.

Uma parte desse problema vem da falta de informação, da ignorância e da ideia equivocada de que existe uma norma a ser seguida – fruto da velha dicotomia normal versus anormal – e que tudo aquilo que é diferente dessa normalidade deve ser combatido. Mas o que é ser normal? Como determinar, em sexualidade, que uma expressão é normal e outra é anormal? Isso não faz sentido, pois cada ser humano tem o direito se relacionar com quem quiser e do jeito que quiser.

LGBTQIA+: Uma breve linha do tempo

Ao longo das últimas décadas, pudemos observar várias mudanças no que tange às siglas que tentam designar o gênero e a orientação sexual das pessoas.

Até os anos 1980, as pessoas que expressavam a sua sexualidade de uma forma diferente do modelo heteronormativo (conceito que significa que apenas os relacionamentos entre pessoas de sexos opostos ou heterossexuais são normais ou corretos. Que enxerga a heterossexualidade como a norma de uma sociedade), eram chamadas de Transviadas. Era um termo genérico e estigmatizante, que englobava a todos, fossem gays, bissexuais, travestis e etc. dando a entender que essas pessoas haviam se desviado do caminho certo ou normal.

Já no final da década de 1980, foi cunhada a sigla “GLS” (gays, lésbicas e simpatizantes), sendo que ainda era algo bastante vago. A letra “S” de simpatizantes designava um grupo de pessoas mais abertas e menos preconceituosas, pois aceitavam outras possibilidades em termos de sexualidade.

Desde então, a sigla foi passando por alterações até alcançar o formato LGBTQIA+. Essas mudanças aconteceram com a intenção de se tentar abordar outras expressões e ter um caráter mais inclusivo, pois além da orientação sexual, elas também abarcam a questão do gênero.

O que significa a sigla LGBTQIA+?

L: Lésbicas. São as mulheres que são atraídas afetiva e/ou sexualmente por pessoas do mesmo sexo/gênero. Não precisam ter tido, necessariamente, experiências sexuais com outras mulheres para se identificarem como lésbicas (GÊNERO, 2009 apud Reis, 2018).

G: Gays. Pessoas do gênero masculino que têm desejos, práticas sexuais e/ou relacionamento afetivo-sexual com outras pessoas do gênero masculino. Não precisam ter tido, necessariamente, experiências sexuais com outras pessoas do gênero masculino para se identificarem como gays (GÊNERO, 2009 apud Reis, 2018).

B: Bissexuais. São as pessoas que se relacionam afetiva e sexualmente com pessoas de ambos os sexos/gêneros. O termo “Bi” é o diminutivo para se referir a pessoas bissexuais (GÊNERO, 2009 apud Reis, 2018).

T: Transexual / Travesti. A pessoa transexual é aquela que não se identifica com os papéis esperados do gênero que lhe foi determinado no seu nascimento. A travesti é a pessoa que vivencia papéis de gênero feminino, mas não se identifica como sendo homem ou mulher, fazendo parte de um terceiro gênero ou de um não-gênero.

Q: Queer. É um termo que vem dos Estados Unidos, que, grosso modo, quer dizer “um gênero em construção/desconstrução”. Dito de outra forma: são as pessoas que não se contentam em aceitar rótulos pré-definidos; e, caminham no sentido de sentir/descobrir/construir/viver de forma única e singular as questões ligadas ao gênero versus sexualidade.

I: Intersexual. O termo “Intersexo”, nasceu em substituição ao anacrônico “hermafrodita”. Embora recente, intersexo já está caindo em desuso, sendo mais adequado dizer “pessoas com diferenças no desenvolvimento do sexo”. É o caso das pessoas que nascem com o aparelho reprodutor, genitália e padrão de cromossomos que não podem ser classificados como essencialmente masculinos ou femininos. Há inúmeros casos em que essas pessoas passaram por cirurgias e/ou hormonização logo nos primeiros anos de vida, com a finalidade de se ter uma definição para masculino ou feminino. Entretanto, nem sempre esses caminhos foram ao encontro daquilo que viria a ser o melhor para essas pessoas, afinal os procedimentos foram tomados antes que elas tivessem condições de participar do processo. Por isso, existe uma corrente que preconiza o adiamento desses procedimentos até que a própria pessoa tenha maturidade para poder decidir o que é melhor para si.

A: Assexual. Chegamos ao grupo de pessoas assexuais. Essas pessoas não estão interessadas em exercer (ou performar) a sua sexualidade. Estudos mostram que existe um número expressivo de indivíduos assexuais na população. Não tem relação com falta de romantismo ou amor; não tem relação com uma vida à parte, solitária e sem um parceiro (a). Muitas pessoas assexuais se relacionam, namoram, casam, porém, não tem interesse na vida sexual.

“+”: finalmente, este é o símbolo que abarca outras possibilidades ligadas à sexualidade humana, como por exemplo, pessoas Pansexuais (pessoa que é capaz de sentir atração sexual, amorosa ou afetiva por qualquer sexo ou gênero, incluindo indivíduos não binários, ou seja, aqueles que não se encaixam apenas nas identidades de gênero masculina ou feminina).

O símbolo “+” é designativo de que existe uma abertura, pois Gênero e Orientação Sexual (ou Orientação do Desejo) são instâncias dinâmicas, mutáveis, ligadas à subjetividade, e, portanto, algo que sempre estará em construção.

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Em tempo: não existe consenso universal sobre o uso e significado da sigla LGBTQIA+, tampouco sobre outros termos citados. Contudo, procurou-se, neste texto, fazer referência àquilo que é mais aceito – tanto na própria comunidade LGBTQIA+ quanto nos meios acadêmicos. É certo que sempre haverá algum tipo de divergência.

Existem pessoas que não se sentem representadas e nem contempladas por nenhuma dessas categorias, nomenclaturas e conceitos. Elas acreditam que são termos limitantes, e que, portanto, não dão conta de expressar a riqueza, complexidade e singularidades da sexualidade humana. É o ponto de vista delas, é legítimo e é importante que seja respeitado.

Por outro lado, acreditamos que as informações deste texto são valiosas, pois dão um norte no caminho para o entendimento. É possível que novos conceitos apareçam no futuro, mas enquanto isso não acontecer, os atuais ajudam na compreensão da sexualidade e suas expressões. No final das contas, conhecer é sempre edificante, pois ajuda a diminuir a ignorância, a discriminação, o preconceito e a violência.

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Fontes:

LGBTIs – Tentativas de Aniquilamento de subjetividades (Conselho Federal de Psicologia)

Manual de Comunicação LGBTI+ (Organizador: Toni Reis)

WPath – Normas de atenção à saúde das pessoas trans e com variabilidade de gênero

Orientações sobre Identidade de Gênero: Conceitos e Termos (Jaqueline Gomes de Jesus)

Scielo: www.scielo.org