Disfunção Erétil

Disfunção Erétil

Texto escrito por Marcos A. Pereira

Disfunção Erétil

Dos problemas masculinos no âmbito do sexo, a Disfunção Erétil (antigamente chamada de Impotência Sexual) talvez seja o maior de todos os fantasmas. Homens que experimentam a DE, geralmente, tendem a entrar numa espiral de angústia e ansiedade, fazendo com que o problema se agrave.

É fato que, com o aumento da idade, os problemas com a ereção passem a se tornar algo comum. Mais de 50% dos homens entre 40 e 50 anos apresentam algum tipo de falha erétil. Entretanto, pesquisas vêm mostrando que cada vez mais homens jovens, às vezes na casa dos 20 e poucos anos, estão sendo acometidos pela DE.

Uma certa pílula azul – ou amarela – trouxe a promessa de acabar com esse problema. Na vida real, entretanto, percebe-se que ela não é a panaceia para todos os males. A poção mágica pode até ser uma aliada ao tratamento, mas outras tantas necessidades também precisam ser atendidas.

O que significa Disfunção Erétil?

De acordo com a última versão do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM-V, a Disfunção Erétil (que também pode ser chamada de Transtorno Erétil) é caracterizada pela falha em obter e/ou manter a ereção do pênis durante as atividades sexuais. Para se configurar a disfunção, é necessário que esteja ocorrendo na maioria das situações sexuais, ou seja, no mínimo em 75% das vezes. E, principalmente, que o problema esteja acontecendo num período de pelo menos seis meses.

Quais os processos envolvidos na ereção do pênis?

Uma mochila com muitas coisas dentro…

O homem é um ser biopsicossocial, ou seja, é influenciado pela biologia, pelos aspectos psicológicos e também pela sociedade/cultura. Para a ereção acontecer, toda uma complexa cascata sistêmica é necessária. Isso vai envolver, inicialmente, aspectos mais primitivos e biológicos, como, por exemplo, a necessidade fisiológica, os hormônios, os músculos, os tecidos e os vasos sanguíneos.

Ao mesmo tempo o cérebro estará sendo mediado por substâncias químicas, como, por exemplo, a dopamina e a acetilcolina, enquanto estará processando aquilo que o homem interpreta cognitivamente da situação sexual. Estímulos são enviados ao SNC (Sistema Nervoso Central) e o SNA (Sistema Nervoso Autônomo), de modo que essa dinâmica vai pavimentando o terreno para o sucesso ou o fracasso da resposta erétil.

Estilos de vida entram nessa equação, alguns colaborando e outros prejudicando a resposta e a qualidade da ereção.

Quais práticas colaboram para a boa qualidade da ereção?

Funcionam como verdadeiros aliados do homem, as boas práticas de autocuidado, como, por exemplo:

• Atividade física regular
• Boa alimentação
Higiene do sono
• Controle do estresse
• Controle do peso e da pressão
• Autoconhecimento

Quais práticas prejudicam a ereção do homem?

Os hábitos desregrados de vida funcionam como obstáculos, que atrapalham o processo psicofisiológico para o homem ter a resposta erétil esperada na hora do sexo. Usamos o termo Fatores de Risco. São eles:

• Exposição crônica ao estresse
• Diabetes
• Tabagismo
• Sedentarismo
• Obesidade
• Distúrbios do sono, como a apneia obstrutiva
• Privação do sono
• Uso abusivo do álcool
• Uso de drogas

Mas, calma! A lista ainda não acabou. Temos outros fatores, não menos importantes do que os descritos até aqui.

Fatores Imponderáveis

Não esqueçamos que cada indivíduo carrega dentro de si suas idiossincrasias como, por exemplo, o afeto, as fantasias, as expectativas, os traumas, as crenças, o desejo, as emoções e os sentimentos.

Somado a tudo isso, precisamos falar sobre a (o) parceira (o) sexual. Muitas perguntas se colocam:

  • Como é a relação do casal?
  • É um relacionamento antigo e estável ou é um encontro casual?
  • Há conflito ou abuso?
  • Essa parceira (ou parceiro) faz um estímulo adequado?
  • Ele ou ela é muito exigente em termos de performance e demanda?
  • O repertório sexual é desenvolvido ou limitado?
  • Há espaço para negociação sobre o que vai acontecer na hora do sexo?

São muitas variáveis e todas podem influenciar a resposta sexual, tanto positiva quanto negativamente. Cada homem leva para a cama a sua mochila com tudo isso dentro. E veja que os boletos nem foram mencionados…

***

Até agora falamos de processos biológicos, de práticas que ajudam e atrapalham, de fatores de risco e dos fatores imponderáveis. Embora tenham muito peso na equação, podemos dizer que todas essas variáveis não funcionam, necessariamente, como “causa versus efeito” em relação à resposta de ereção.

Dito de outra forma, podemos afirmar que mesmo que tudo isso estivesse concorrendo de modo desfavorável, ainda assim, um homem poderia conseguir a resposta erétil necessária para a relação sexual. Sim, seria possível, embora bastante improvável.

Fatores que causam a Disfunção Erétil

A partir daqui, falaremos sobre as causas que, literalmente, impedem que a ereção aconteça. Agora, sim, estamos falando de causa e efeito.

Quais são as causas diretas da Disfunção Erétil?

Podemos dividir as causas em orgânicas e psicológicas.

Quais são as principais causas orgânicas da Disfunção Erétil?

• Problemas vasculares: a ereção do pênis depende de um fluxo sanguíneo adequado, pois possui artérias, veias e nervos no seu interior. Algumas doenças podem prejudicar a irrigação do órgão. Exemplos: hipertensão, doença coronariana, colesterol elevado etc. Existe uma sábia frase que diz “se quer cuidar do seu pênis, cuide do seu coração”;

• Problemas neurológicos: doenças que afetam os nervos respondem por até 20% dos casos de DE. Exemplos: doença de Parkinson, tumores do sistema nervoso central etc;

• Problemas hormonais: desequilíbrios na produção de determinados hormônios podem causar uma queda drástica na qualidade da ereção. Exemplos: testosterona baixa, hiperprolactinemia, hipotireoidismo etc.

• Problemas teciduais: o envelhecimento, o aparecimento de algumas doenças, o jeito como o sujeito usa o seu órgão, entre outras coisas, pode favorecer o surgimento de problemas nos tecidos do pênis, causando a DE.

Quais são as causas psicológicas associadas à Disfunção Erétil?

• Questões ligadas ao autoesquema sexual
• Crenças nos mitos sexuais (entenda esse viés clicando aqui)
• Luto
• Ansiedade (Síndrome do Pânico, TOC, Transtorno de Ansiedade Generalizada)
Depressão
• Baixa autoestima
• Histórico de abuso sexual / emocional
• Expectativas irrealistas de desempenho
• Alexitimia (dificuldade de processar as emoções)

Quase que invariavelmente, a DE afetará a estrutura psicológica do indivíduo que estiver passando pelo problema, mesmo que a causa seja estritamente orgânica. Não é difícil entender o porquê.

Nossa sociedade é falocêntrica. Mensagens diretas e subliminares carregadas de ideais de virilidade como sinônimo de masculinidade e poder permeiam filmes, propagandas, novelas. Mitos sexuais, como por exemplo, “sexo sem penetração não é sexo de verdade”, ou, “homem que é homem tem bom desempenho no sexo e está sempre pronto para transar”, estão arraigados no imaginário coletivo.

A pergunta que se coloca é: Como não ser afetado?

A Disfunção Erétil tem cura?

Podemos dizer que a grande maioria dos homens que buscam tratamento adequado, respondem de maneira muito satisfatória e efetiva, voltando a ter uma vida sexual ativa e gratificante.

Como é feito o tratamento da DE?

O primeiro passo é se fazer uma avaliação e um diagnóstico bem-feitos. A terapêutica pode ser não-farmacológica, conduzida por aconselhamento com um sexólogo ou psicólogo que tenha formação em terapia sexual; pode ser farmacológica, com medicamentos que facilitam ou induzem a ereção; ou, ainda, cirúrgica.

Dependendo das particularidades do caso, o paciente será acompanhado pelo médico andrologista ou urologista, pelo psiquiatra, pelo psicólogo, entre outros. Em algumas situações, o plano de tratamento poderá incluir uma intervenção multidisciplinar combinada, com mais de um profissional atuando, de modo a se alcançar uma resposta mais eficiente.

Se você está passando por dificuldades na vida sexual, busque ajuda especializada. Para marcar uma consulta, clique aqui

 

Fontes para a elaboração deste texto:

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/

https://scielo.org/pt/

Barlow, D. H. (2009). Manual clínico dos Transtornos Psicológicos. (4. ed).  Porto Alegre: Artmed

Instituto Paulista de Sexualidade (2001). Aprimorando a saúde sexual: manual de técnicas de terapia sexual. (2. ed). Summus

Sardinha, A. (2022). 100 mitos sexuais que os profissionais de saúde acreditam. Ebook.

Sardinha, A. (2020). Terapia Cognitiva Sexual. Teoria e Prática. Campo Grande: Episteme.

Carvalho, A; Sardinha, A. (2017). Terapia Cognitiva Sexual. Uma proposta Integrativa na Psicoterapia da Sexualidade. Rio de Janeiro: Editora Cognitiva.

DSM V – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais