Mindfulness

Texto escrito por Marcos A. Pereira

No presente artigo, iremos analisar uma técnica de meditação chamada “Mindfulness”, termo cunhado em língua inglesa, que traduzido para a nossa língua quer dizer “Atenção Plena”. Essa modalidade meditativa não tem cunho religioso, embora tenha a filosofia budista na sua raiz. Pode ser praticada em qualquer lugar, por quase todas as pessoas, sem finalidade mística ou religiosa.

Nos últimos anos um grande número de autores e pesquisadores, entre eles o médico americano Jon Kabat-Zinn e os psicólogos americanos Marsha M. Linehan e Steven C. Hayes, vêm se dedicando ao trabalho de oferecer para a meditação um referencial teórico científico.

Isso tem possibilitado o uso terapêutico independentemente da conceituação religiosa budista, abrindo sua prática para um público mais amplo. As pesquisas mais recentes oferecem indícios de que uma série de terapias baseadas na atenção plena podem ser bem sucedidas no tratamento de dores crônicas, em sintomas de ansiedade e depressão, de estresse e de comportamento suicida recorrente.

Há algumas décadas, Universidades de grande prestígio internacional vêm se dedicando a entender e explicar sob o olhar científico as práticas de meditação, com destaque para o Mindfulness. Harvard, Oxford e Cambridge são alguns exemplos.

Estudos mostram que indivíduos que meditam regularmente são mais satisfeitos e felizes que a média geral das pessoas. Sabemos que as emoções positivas têm repercussões diretas na saúde, promovendo um aumento na qualidade e na expectativa de vida.

O que é o Mindfulness?

Resumidamente, Mindfulness é estar focado no momento presente, simplesmente prestando atenção ao que se está fazendo ou aonde a mente está. Isso pode ser algo bem simples, como por exemplo, tomar um chá e permanecer atento às características dele: temperatura, sabor, coloração, cheiro.

Grosso modo, de maneira intuitiva, todos nós praticamos Mindfulness em algum momento. Seja quando estamos concentrados na apreciação de uma obra de arte, seja quando embarcamos na leitura de um livro, seja quando nos debruçamos numa tarefa que nos “desliga” de todas as outras coisas.

Como dito, em sua essência, o Mindfulness é algo simples. Isso não quer dizer, todavia, que seja fácil implementá-lo na vida diária.

As pessoas tendem a se perder nos próprios pensamentos. Muitas vezes – senão na maioria –, o pensamento é tomado como um fato, como a realidade. Ideias sobre o passado ou antecipações sobre o futuro, acabam afastando o indivíduo do momento presente. Esquece-se que a única coisa certa é o presente, pois o passado já foi e o futuro é vago e incerto.

Isso traz sofrimento e retira a possibilidade de se vivenciar, de se experienciar verdadeiramente o momento presente.

Nossa mente é uma usina de produção de pensamentos e é natural a tendência de viajar em vários assuntos. Os pensamentos voam longe, parecendo que tem vida própria, mesmo que haja um esforço deliberado para interrompê-los.

O grande problema, contudo, é que nem sempre somos capazes de perceber essa desatenção. Você pode estar lendo esse artigo exatamente agora, e ao mesmo tempo tentando pensar no que vai preparar para o jantar; em como será a próxima viagem de férias; na discussão que teve com seu par romântico… Resultado: o texto não está sendo apreendido de maneira plena; tampouco a reflexão dos outros assuntos.

Outro ponto a se considerar são as distrações.

No mundo atual, cada vez mais as distrações nos roubam a atenção no momento presente. De todos os lados, múltiplos estímulos vão drenando nossa capacidade de ter uma verdadeira conexão com as coisas: excesso de informações, redes sociais, celular, etc. Isso está cada vez mais cristalizado na sociedade, tendo um impacto direto na vida mental e, sobremaneira, na qualidade da atenção.

Muitos tendem a achar que é bom ter a concentração dividida entre várias coisas. Essas pessoas alegam que se sentem mais eficientes. Por exemplo, pensemos num indivíduo pedalando uma bicicleta ergométrica, ao mesmo tempo em que ouve um Podcast e lê um livro. Assim a minha produtividade é maximizada, poderia ele dizer.

O que os estudos vêm mostrando, porém, é que esse jeito de estar no mundo cria uma mente que têm dificuldades de focar em uma única atividade.

Uma cena que faz parte do cotidiano é ver pessoas num restaurante almoçando, ao mesmo tempo em que estão vidradas nos seus aparelhos celulares. Ou seja, não estão verdadeiramente tendo uma experiência com a comida. Com a atenção presa no e-mail, nas redes sociais, no whatsapp, etc, foi perdida a possibilidade de degustar a refeição e apreciar sabores, texturas, cores, aromas…

O cérebro humano não trabalha na sua máxima capacidade de processamento quando precisa se dividir em várias tarefas. Com efeito, submetê-lo a múltiplos estímulos constantemente, deixa-o estressado e esgotado. No longo prazo, funcionando de maneira crônica no modo multitarefa, o cérebro pode passar a ativar de forma desajustada áreas ligadas à ansiedade.

O Mindfulness funciona como um antídoto para isso.

Como praticar o Mindfulness?

Para aprender a técnica, o iniciante pode ser conduzido por algum meditador experiente. Outra possibilidade é seguir um programa estruturado com orientações escritas e áudios pré-definidos. Por exemplo, existe o livro “Atenção Plena – Mindfulness – Como encontrar a paz em um mundo frenético”, que vem com as instruções, um programa estruturado e um CD contendo práticas guiadas.

No momento de praticar o Mindfulness, temos basicamente dois modos:

  • Prática formal: escolhe-se um local e um horário; estabelece-se um tempo de prática, adotando uma postura que reflita a sensação de estar desperto, e se segue um tema para atrelar a atenção: a respiração, os sons, os pensamentos, o corpo, etc.
  • Prática informal: é quando nos concentramos exclusivamente em alguma coisa, mas sem adotar as posturas da prática formal. Por exemplo, ao tomar banho, podemos nos conectar com todas as sensações vividas nesse momento: a temperatura da água, o aroma do shampoo, a textura do sabonete passando na pele, a pressão da água caindo no corpo, etc.

As nove atitudes desejáveis para o praticante do Mindfulness, segundo Jon Kabat-Zinn:

  • Mente aberta, como a mente do principiante
  • Não julgamento
  • Aceitação
  • Desapego
  • Confiança
  • Paciência
  • Não ambicionar em demasia
  • Gratidão
  • Generosidade

Existe contraindicação para a prática do Mindfulness?

Sim. O Mindfulness não deve ser praticado por indivíduos que estejam passando por crises agudas de ansiedade, depressão psicótica, portadores da Esquizofrenia, ou outros transtornos mentais graves.

Saliente-se, por outro lado, que essa prática é um importante coadjuvante justamente no tratamento de transtornos como a Depressão e a Ansiedade, entre outros; e, de forma geral, na busca de uma mente mais equilibrada e sadia. É importante dizer, contudo, que o transtorno de base precisa ser primeiramente estabilizado, para somente depois se introduzir a meditação. Se quiser saber mais, agende uma consulta clicando aqui.

A seguir, quatro sugestões de vídeos sobre o Mindfulness:

  • O professor Pedro Calabrez fala sobre os benefícios da meditação (Clique aqui)
  • A Flávia, do canal Letras e Léguas, faz uma resenha do livro e conta a sua experiência com o Mindfulness (Clique aqui); após um ano de práticas, ela fala sobre os benefícios e as mudanças que percebeu em sua vida (Clique aqui)
  • O médico e professor Jon Kabat-Zinn explica as nove atitudes do Mindfulness (Clique aqui)

Fontes:

Mindfulness e Psicoterapia – Christopher K. Germer, Ronald D. Siegel, Paul R. Fulton

Atenção Plena – Mindfulness – Como encontrar a paz em um mundo frenético – Mark Williams e Danny Penman

https://www.theminimalists.com/