Transtorno Bipolar

transtorno bipolar, psicólogo em Santana, terapia cognitivo-comportamental

Texto escrito por Marcos A. Pereira

O que é o Transtorno Bipolar?

O Transtorno Bipolar (TB) é um transtorno do humor. É crônico e definido por episódios agudos e recorrentes de alteração patológica do humor, podendo persistir por semanas ou meses. Dessa forma, é difícil que os portadores – e seu círculo de relações – possam prever o estado emocional que se apresentará num futuro próximo ou longínquo.

Isso é muito diferente do uso banalizado do termo, quando, por exemplo, ouvimos o senso comum falar: fulano é bipolar, de manhã está todo sorridente e à tarde está mal-humorado. Alterações rápidas do humor podem acontecer com qualquer pessoa, porque a vida é dinâmica e nos apresenta situações positivas e negativas o tempo todo. O TB é algo muito mais grave.

O estudo e a compreensão do TB vêm se desenvolvendo ao longo de muitas décadas. A partir de 1980, com a chegada do DSM-III, o novo conceito do transtorno passou a incluir duas subdivisões:

  • Transtorno Bipolar tipo I (alternância entre episódios de depressão e episódios de mania)
  • Transtorno Bipolar tipo II (menos grave que o primeiro, é a alternância entre episódios de depressão e episódios de hipomania)

Como se desenrolam as fases do Transtorno Bipolar?

A fase da Depressão

O funcionamento geral do indivíduo é puxado para baixo. Estão presentes a falta de energia, pensamentos conflitantes, sentimentos de culpa e inadequação, baixa autoestima, isolamento do convívio social, pensamento suicida; a pessoa percebe-se adoecida, desamparada, sem esperança e não consegue cumprir suas obrigações – ou as cumpre com extrema dificuldade.

A fase da Mania

Ao contrário da fase da depressão, na mania a pessoa entra num estado psicótico de euforia. O distanciamento da realidade e a perda do controle são marcantes, de modo que comportamentos extravagantes passam a gerar grandes prejuízos na vida social, nas finanças, no trabalho, na saúde, nas relações pessoais. Funções que envolvem sono, cognição, psicomotricidade, sexualidade ficam exacerbadas. O maior problema dessa fase é que o indivíduo não se percebe como doente; pelo contrário, ele está cheio de energia, têm projetos grandiosos (muitas vezes delirantes) e se sente muito produtivo.

A fase da Hipomania

A hipomania é entendida como uma manifestação mais leve da mania, pois não apresenta os sintomas psicóticos. De qualquer forma, o indivíduo não está em um funcionamento normal, pois a energia, a impulsividade, a irritabilidade, a sexualidade e etc. estão em excesso. Tal qual na fase da mania, a pessoa não se vê como doente, mas sim num período de grande criatividade e entusiasmo.

O transtorno bipolar caracteriza-se como uma patologia na qual os portadores, muitas vezes, não aderem a tratamentos com facilidade, sobretudo nas fases de mania e hipomania. Isso ocorre justamente por se sentirem cheios de vitalidade e ideias grandiosas. Estudos mostram, por outro lado, que quando o indivíduo entra na fase depressiva, ele fica mais aberto e engajado ao tratamento.

Outro ponto importante no transtorno bipolar se refere aos aspectos metacognitivos. Estudos mostram que pacientes portadores do transtorno bipolar têm a metacognição menos desenvolvida. Metacognição é a capacidade de observar, monitorar e compreender a nossa cognição. A cognição, por seu lado, é formada pelos nossos pensamentos, memórias, percepção, conhecimentos, articulação mental para a tomada de decisões, habilidade para interpretar eventos.

Quais são as consequências da baixa metacognição no Transtorno Bipolar?

Uma pior capacidade metacognitiva tem sido associada a desfechos mais desfavoráveis em diferentes quadros clínicos, incluindo menores habilidades para lidar com o estigma, buscar apoio social, ter um bom funcionamento em ambiente de trabalho, vincular de forma coesa eventos da vida e experimentar motivação intrínseca. Níveis mais baixos de metacognição também foram associados a menor capacidade em lidar com a ansiedade, maiores dificuldades em reconhecer desafios psicossociais e maior duração de quadro psicótico não tratado.

Como é o tratamento do Transtorno Bipolar?

São várias frentes que formam um tratamento efetivo e duradouro. Entre elas, podemos citar:

  • Adoção de hábitos saudáveis de vida, como a higiene do sono, boa alimentação e atividade física.
  • A psicoterapia assume um papel importante, pois fatores relacionados ao paciente – como crenças centrais, hábitos, resistências, função cognitiva – precisam ser esclarecidos, modificados e ensinados no sentido de ajudar reforçar a adesão e o compromisso e evitar o abandono ao tratamento. Além disso, a demanda subjetiva de cada indivíduo merece ser observada e acolhida.
  • A medicação também tem papel central no tratamento desse transtorno. Estudos mostram que esse recurso atua como um regulador químico da vida afetiva, tornando os pacientes mais independentes e menos vulneráveis às oscilações do humor.

A confiança nos profissionais, o bom relacionamento estabelecido com eles, a presença e ajuda dos familiares, também são fatores importantes para a adesão aos tratamentos.

Pacientes que aderem ao tratamento demonstram grande satisfação ao ver que os medicamentos e demais terapias estão fazendo efeito, mesmo com o desconforto às vezes causado pelos efeitos colaterais dos remédios.

Por outro lado, a não adesão ao tratamento pode trazer diversas consequências negativas, como a recorrência de episódios de mania/hipomania e os episódios depressivos. Hospitalizações, comportamentos suicidas, deterioração da qualidade de vida, entre outras coisas, também são consequências de não se tratar essa doença.

Para mais informações, clique aqui.

Fontes:

https://scielo.org

Uma mente inquieta – Kay Redfield Jamison

Transtorno bipolar: O que é preciso saber – David J. Miklowitz